"Brincadeira de mau gosto" acaba em tragédia
Um militar de 27 anos pertencente ao posto de Monchique da Guarda Nacional Republicana (GNR) morreu ao ser atingido na cabeça por uma bala da arma de serviço que acabou por disparar de "forma involuntária", de acordo com a versão oficial, no interior das instalações e na presença de colegas. O caso ocorreu pouco antes da meia-noite de domingo, numa altura em que se preparava para entrar ao serviço.
O Instituto Nacional de Emergência Médica foi, de imediato, alertado, pelas 23.58 horas, mas apesar dos esforços desenvolvidos para a reanimação da vítima nas instalações da GNR, após terem sido accionados os Bombeiros Voluntários de Monchique e uma Viatura Médica de Emergência Rápida do Barlavento Algarvio, Filipe Silvestre, com o estatuto de guarda, não conseguiu resistir aos ferimentos. O óbito foi declarado pouco depois no local. O helicóptero do INEM baseado em Loulé e também accionado nas operações de socorro, acabou por ser desactivado. Cerca das 2.00 horas da madrugada, deslocou-se ao posto da GNR de Monchique uma equipa de psicólogos, a fim de prestar apoio aos militares ali em serviço.
Tratou-se de um "disparo acidental", garantiu ao DN o tenente-coronel Luís Sequeira, responsável pelo sector das Relações Públicas do Comando da GNR do Algarve. Quatro colegas estariam com Filipe Silvestre na altura em que ocorreu o acidente. Segundo informações recolhidas pelo DN, um deles até terá desabafado que o sucedido resultou de uma "brincadeira de mau gosto".
Uma outra versão reforça essa ideia, indicando que o guarda estaria a "rir, a brincar com a arma e a limpá-la, tendo até feito um disparo contra uma parede, após que a bala fez ricochete". Não foi possível obter confirmação sobre estas versões, numa altura em que a GNR procedeu à abertura de um inquérito para apurar os contornos do acidente. O caso encontra-se sob investigação da Polícia Judiciária, estando a arma, uma pistola «Glock» com calibre de nove milímetros, a ser alvo de peritagem.
Natural da Aldeia dos Fernandes, situada no concelho de Almodôvar, no Baixo Alentejo, Filipe Silvestre, de 27 anos, que vivia maritalmente com uma jovem conterrânea em Portimão a trabalhar na área da saúde, ingressou na GNR em 2009 e encontrava-se desde essa altura no posto de Monchique. Antes, residia em Cascais. "Era um indivíduo sem problemas, super-activo e bem constituído fisicamente, que se preparou para ingressar nas brigadas de intervenção rápida em Portimão ou Faro. O que aconteceu foi um descuido", confidenciou ao DN um elemento da GNR.
Já o presidente da direcção da Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG), José Alho, em declarações ao DN, lamentou que "25 por cento dos militares da GNR procedam a operações de segurança das armas no interior dos quartéis". "E muitas vezes não o fazem com o máximo cuidado que deviam ter. Por questões de segurança, apelo no sentido de não manusearem armas no interior das instalações, mas sim numa zona ao ar livre, como por exemplo o quintal do próprio quartel. E com a arma apontada para o ar para a bala não fazer ricochete. O problema é que em muitos quartéis da GNR nem sequer existem quintais", frisou José Alho.
Jovem "normal, simpático, que se dava bem com toda a gente"
Na Aldeia dos Fernandes, do concelho de Almodôvar, de onde é natural Filipe Silvestre e a família e vivem os seus avós paternos e um avô materno, populares recordaram o guarda como um jovem "normal, simpático, que se dava bem com toda a gente". "Mostrava que não tinha problemas, visitava os avós aos fins-de-semana e ainda recentemente esteve cá para oferecer um prenda de aniversário à avó. Os avós ficaram de rastos em termos psicológicos quando souberam da morte do neto. É uma família muito unida", contou ao DN uma habitante. Os pais de Filipe Silvestre vivem em Cascais e têm outro filho, que é mecânico de aviões no Exército, na zona de Lisboa, segundo apurou o DN. O funeral realiza-se naquela localidade alentejana.